FUTUROS SEQUESTRADOS VS. ANTI-SEQUESTRO DOS SONHOS, OU tratando de contribuir para um novo plex multiversal

CURSO IMERSIVO/ clínica*arte
De 20 a 30 de maio-2016, Rio de Janeiro

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EQUIPE:  Peter Pál Pelbárt, Fabiane M. Borges, Leandro Nerefuh, Marcelo Marssares, Paola Barreto, Giseli Vasconcelos, Rafael Frazão

 

TAGS: Futurologia, cibernética, tecnoprimitivismo, ficção científica, tecnoxamanismo, antropoceno, práticas rituais, onto-ficção, interescritura, ruído, pancinema, anarqueologia, onirismo, auto-ficcionalização, performance, auto-estudo experimental, subjetividade, narrativa fantástica.

 

APRESENTAÇÃO

Comecemos pela lama tóxica: eco da violência neo-desenvolvimentista brasileira e mundial, a matança escancarada para agarrar terras, Friboi ou free os bois?, a lógica mononatural das parceiras privado-público e a contaminação de todas as águas. No cenário thinking estratégico dos governos, a polícia de choque é que se prepara para lidar com as populações que querem acesso às fontes – open source.  Estamos mesmo na lama e a lama não é uma metáfora. Nesse contexto de previsões catastróficas de ‘fim do mundo’ por conta da ação humana destruidora dos sistemas da terra ­‐ acarretando mesmo em um novo período geológico: o antropoceno; o capitaloceno; the metabolic rift –­ esse curso tratará de desviar da nossa rota de colisão apocalíptica e apontar para algumas alternativas de futuro ou futurologias alternativas que carregam um giro tecnológico da diferença. Através da apropriação e da invenção tecno de todas as ordens: ultra low‐tech, ocultas, primitivas… que podem fornecer possibilidades de vislumbrar outros tipos de relações entre humanos, não-­humanos e a terra (interespecifics).

O curso se configura como um tratamento clínico, ritualístico, teórico e prático de encontro das potências do corpo humano com e na terra, de insurgência telúrica. Como criar tratamentos terapêuticos para sanar a lama tóxica, o imaginário carbônico, as enchentes e as secas do clima e do pensamento? Pensamos na engenharia do futuro: a geo-engenharia e a engenharia do corpo. No porvir em relação ao fracasso civilizatório atual. Na urgência da metareciclagem no campo das ficções. E na produção de cosmogonias livres.

DO CURSO

A partir das discussões científicas e teórico-especulativas atuais sobre a era do antropoceno e o ‘fim do mundo’, e em contraponto com futurologias alternativas, construiremos uma dinâmica de imersão conduzida a partir de diferentes técnicas de performance, de ruído, de leitura, de escuta de espectros, desenvolvimento de aparatos eletrônicos, construção de narrativas ficcionais e de propostas clínicas (subjetividade).

O curso conta com pesquisadores de clínica e subjetividade, performance, cinema, eletrônica e música, que promoverão um ambiente de investigação e experimentação radical, a partir das questões que o antropoceno tem levantado no imaginário social.

 

DA ESTRUTURA
Carga horária: 5 horas por dia de práticas imersivas – 16h as 22h
Período: 20 a 30 de Maio 2016

O curso tem base teórica, prática e técnica e prevê a construção de um processo de trabalho experimental, que será realizado no campo (sítio Capacete em Lídice – RJ) e na cidade (Escola Capacete no Rio de Janeiro), fazendo uso de:

1- Linguagens performativas: Uso de técnicas de corpo, improvisação de cena, construção de ações individuais e coletivas a partir de estudos auto-biográficos, construção experimental de linguagem expressiva, ritualização, gestualização, estados de presença, entre outros.

2- Ruidocracia: Uso de técnicas de linguagem sonora, produção de ruído (digital e analógico), vocalização, improvisação narrativa, construção de estados coletivos de escuta. O entendimento do ruido como ruptura da comunicação baseada na inteligibilidade: emissão-redundância-recepção. A ideia aqui é a construção de linguagens que se dão entre humanos e outras espécies.

3- Narrativas ficcionais: Ficcionalização, desenvolvimento de escrita coletiva de caráter transnarrativo, desenvolvimento de personagens, ambientes, contextos. Interescrituras, produção cosmogônica, mítica, metafísica, ontologias diversas, tratados, escritas de associação livre.

4- Live-Cinema: Manipulação de imagens em tempo real, multi-projeções, improvisações narrativas, composição de paisagens visuais, ruídos e texturas luminosas, montagem nuclear, montagem ideogrâmica, livre associação de imagens signo. Diferentes ontologias imagéticas em colisão – arquivo / ao vivo / imagem midiática / imagem de exceção / imagem erro. Exercício livre de gramática audiovisual, cinemúsica da luz.

5- Espectrologia: Criação de dispositivos eletrônicos simples (associado a bobina, bateria, saída de áudio, cabos, etc) para escuta de campos magnéticos. A partir da construção do dispositivo (cada um desenvolverá seu próprio aparato) será proposta uma série de derivas que possibilitarão a escuta espectral de ruídos dos mais diversos elementos, desde lâmpadas, eletrodomésticos até antenas, plantas, árvores, água, etc.

6- Clínica: Esquizodrama, dinâmicas de grupo, técnicas de escuta, associação livre, problematização de questões levantadas pelo grupo, auto-conhecimento, o intelecto e o inconsciente coletivo, contação de sonhos, técnicas de concentração, produção imaginária, fabulação, aprofundamento de linguagens expressivas, relação com o futuro.

7- Communitas: Convivência coletiva, construção de rede, rodas de conversa, tarefas práticas, comunicação intensiva, partilhamento de processos cotidianos, resolução de problemas, alimentação, gestão colaborativa, etc.

 

ENCAMINHAMENTO

Como forma de conclusão dos trabalhos desenvolvidos ao longo dos 10 dias de convivência, o curso inclui uma apresentação pública do processo de trabalho, tendo o formato aberto, que pode ser: uma apresentação multimídia, uma sessão de cinema ao vivo, uma fotonovela, um show de performances, uma coreografia ou agitprop, uma sci-fi (interescritura), um show de variedades. Tudo vai depender da formação do grupo.

Serão trabalhados conceitos como hiperstição, aceleracionismo, pós-humanismo, transhumanismo, ciborguezia, filosoficção, filo-ficção, transnarrativa, interescritura, tecnomagia, metafísica da lata de lixo de Estamira, antropoceno, animismo, subjetividade da matéria, tecnologias do it yourself, multidões queer, imaginação e ficcionalização, astrofuturismo, tecnoprimitivismo de Oswald de Andrade, etc.

 

PROGRAMAÇÃO (aberta para o imprevisto)

DIA 1 – Palestra inicial com Peter Pál Pelbárt, seguida de jantar

DIA 2 – Apresentação estrutural do curso/clínica, e apresentação de cada participante em formato pecha kucha (5 minutos cada)

DIA 3 – Experimentos em linguagens performativas, autoconhecimento, interescritura, improvisação gestual e narrativa, ficcionalização de histórias pessoais

DIA 4 – Experimentos em narrativas ficcionais, ruidocracia e produção sonora

DIA 5, 6 e 7 – Viagem a Lídice (sítio localizado no interior do Rio de Janeiro, região de cafesais) – imersão ritual – caminhada, cachoeira, imersão ritual, fogo, ficções, contação de histórias

DIA 8 – Oficina de criação de aparato eletrônico para escuta de espectros e de linguagens de live cine (cinema ao vivo)

DIA 9 – Organização de todo material produzido durante a oficina – decisões sobre a programação do dia.

DIA 10 – Apresentação conclusiva de processo – encaminhamento (em formato a ser definido pelo grupo)

 

Metodologias diárias de oficina/clínica: prática de roteiros polivalentes (PAV – produto audiovisual aplicável a distintos meios); estudo de texto e hipertexto (texto, som e imagem em movimento); anotação e contação de sonhos; rodas de conversa; clínica individual e/ coletiva; práticas de invenção.

 

PÚBLICO
O curso é oferecido para pessoas acima de 15 anos, de qualquer lugar do Brasil, América Latina e do mundo. O transporte fica a cargo de cada um. Mínimo 10 e máximo 30 pessoas.

 

INSCRIÇÃO

  1. Carta de interesse de no máximo duas páginas falando de sua experiência e do interesse no curso. O currículo vitae. O nome, identidade, cpf, endereço, cidade, email e skype. Para o seguinte email: imersaocapacete@gmail.com
  2. Entrevista presencial ou virtual (via skype)
  3. Inscrição única R$ 500,00

 

BOLSA
Oferecemos duas bolsas para pessoas que queiram fazer o curso mas não tenha condições de arcar com os custos de inscrição. Favor indicar necessidade de bolsa no momento da inscrição.

 

QUESTÕES PRÁTICAS

HOSPEDAGEM NO RIO*
Quartos individuais disponíveis no Capacete – R$500 por 10 dias
Quartos compartilhados (para duas pessoas) no Capacete – R$600 por dez dias

*não incluída no custo do curso

 

USO DA ESCOLA CAPACETE
Acesso irrestrito a Escola Capacete – biblioteca, wifi, cozinha, banheiros, espaço para encontros e equipamento audio/visual básico. Também inclui café, chá, água e banana.

VIAGEM A LIDICE*
Transporte (Rio – Lídice – Rio) e hospedagem incluído.

Hospedagem em barracas e redes. É preciso levar saco de dormir e/ou cobertores (em Maio faz bastante frio a noite), e toalhas.

Lídice fica no município de Rio Claro, na serra de Angra dos Reis a duas horas e meia do Rio de Janeiro e a 20 minutos de Angra dos Reis.

* Em caso de chuva, a viagem não acontece porque não faz sentido.

 

MINI-BIOGRAFIAS

Fabiane M. Borges

Artista, psicóloga e ensaísta. Doutora em psicologia Clínica (Núcleo de Subjetividade PUC/SP – com estágio em Artes Visuais na Goldsmiths University of London). Pesquisa arte/tecnologia, subjetividade, xamanismo e processos imersivos. Atua com grupos, coletivos e redes desde o ano 2000 desenvolvendo uma série de ações como ACMSTC (Arte Contemporânea no Movimento sem Teto do Centro (Ocupação Prestes Maia – São Paulo/2003), Integração sem Posse (Ocupação Prestes Maia – São Paulo/2004-2007), Festivais do Submidialogia (Brasil/2006-2010), Festivais de Tecnoxamanismo (Brasil-Equador-Dinamarca/2014-…). Entre exposições realizadas, destacam-se Transmedialle (Berlim/2014-2016), Arte em Órbita (curadora no CAC – Equador/2015), MAR Poéticas do Dissenso (Rio de Janeiro/2013) e  Zona de Poesia Árida (Rio de Janeiro/2015), MALM (Instituto Goethe – Porto Alegre 2015), entre outros. Trabalha com clínica individual e em grupo. Faz atendimento terapêutico presencial e virtual – https://about.me/FabianeMBorges

Giseli Vasconcelos

Nos últimos 10 anos manejo ideias e práticas coletivas entre ativistas, pensadores, artistas,  e organizações no Brasil. Graduada em Artes pela Unesp-IA, concebi e produzi  festivais, oficinas, encontros e workshops tais como Mídia Tática Brasil (N5M4 -2003 ), Digitofagia (MIS/SP – 2004), Autolabs (ZL SP 2004).  Fui co-organizadora da publicação Net_Cultura 1.0: DIGITOFAGIA (2008), financiado pelo programa internacional Sarai Waag Exchange Platform e Radical Livros. Organizo desde 2011 a publicação Dossie: Por uma cartografia crítica da Amazônia, uma documentação que reúne a realidade cultural, política e conflituosa da região. Resido entre Estados Unidos e Brasil, numa jornada geográfica experienciando sistemas por uma vida sustentável e ações criativas geopolíticas. http://comumlab.org

Leandro Nerefuh

Artista construtivista tabaréu, trabalha com a tradução formal de teorias especulativas e narrativas históricas, com especial interesse na América Latina. Com mestrado em Estudo Culturais pela Universidade de Londres; foi professor de história da arte da Faculdade Zumbi dos Palmares (Armênia – SP), é colaborador da Escola Capacete, Rio de Janeiro, e fundador do PPUB, partido político atuante no Brasil, Paraguai e Uruguai. Entre exposições realizadas, destacam-se: Arquivo Banana, 12 Bienal de Havana; Caverna de Umbelina, Solo Shows, São Paulo; Agitprop Abyssal, Zacheta Galeria Nacional, Varsóvia; Livraria Calil Trouvé, 33 Panorama de Arte Brasileira MAM, São Paulo; Mobile Radio BSP, 30 Bienal de São Paulo; Memórias Disruptivas, Museu Reina Sofia, Madri; Talk Show, ICA, Londres. www.nerefuh.com.br

Marcelo Marssares

Artista plástico que trabalha som e imagem em suas relações de contato físico; o som como ativador de uma visão alterada, o campo acústico como possibilidade imersiva, a música encarada como impulso vibratório em violenta expansão. O contexto e o ambiente são fatores que contribuem para a criação de suas propostas performáticas, ambientais e participativas. Em Uguanda Compressive Files, Capacete, morou por 9 dias no espaço expositivo da galeria disponibilizando instrumentos para aqueles que junto com ele estivessem dispostos a criar um encontro de música-não-música caótica e de improviso coletivo.

Paola Barreto

Artista audiovisual e pesquisadora. Graduada em Cinema (UFF) e Mestre em Tecnologia e Estéticas (PPGCOM/ UFRJ), atualmente dedica-se ao Doutorado em Poéticas Interdisciplinares (PPGAV/ UFRJ). Através de um trabalho desdobrado entre circuitos de vídeo eletrônicos e digitais, fantasmagorias e sistemas híbridos, desenvolve investigação prática e teórica sobre live cinema e vitalidade da imagem. Participou de exposições no circuito SESC em diversas cidades brasileiras, além de Festivais Internacionais como Vorspiel/ Transmediale, em Berlim, Live Performers Meeting, em Roma e Live Cinema, no Rio de Janeiro.

Peter Pál Pelbárt

Professor titular de filosofia na PUC-SP e coordenador do departamento de filosofia da PUC-SP. Escreveu principalmente sobre loucura, tempo, subjetividade e biopolítica. Publicou O Tempo não-reconciliado (Perspectiva), Vida Capital (Iluminuras) e mais recentemente, O avesso do niilismo: cartografias do esgotamento (n-1 edições), entre outros. Traduziu várias obras de Gilles Deleuze. É membro da Cia Teatral Ueinzz, e coeditor da n-1 edições.

Rafael Frazão

Artista visual e desenvolve trabalhos em cinema, conteúdos para internet e novas mídias. Tem experiência na criação e produção de filmes autorais de curta e longa metragem, filmes institucionais e publicidade. Tem também experiência em projetos de arte e tecnologia, video-instalações, projetos de interatividade, projeção mapeada, vjing, streaming, gambiarras tecnológicas em geral aplicados á instalações, teatro, dança e eventos. Com a produtora Filmes para Bailar participou da criação do coletivo Casa da Cultura Digital, do festival Baixo Centro e de uma série de ações relacionadas a apropriação crítica das tecnologias e a cultura livre. Atualmente estuda abordagens da neurociência na performance cênica com a obra Objeto Descontínuo, desenvolve o longa-metragem de fantasia cosmopolítica São Pã e contribui no núcleo de investigação e produção em performance 7Direções.

BIBLIOGRAFIA:  

  • “A Arte do Sonhar”, Carlos Castañeda
  • “A Queda do Céu – Palavras de um Xamã Yanomami” –  Davi Kopenawa e Bruce Albert
  • “Antes o Mundo não existia” Mitologia dos antigos Desana-Kehíripõrã” – Umusi Pãrõkumu (Firmiano Arantes Lana) e Tõrãmú Kehíri (Luiz Gomes Lana). Ed. ed. — São João Batista do Rio Tiquié : UNIRT ; São Gabriel da Cachoeira : FOIRN, 1995. (Coleção Narradores Indígenas do Rio Negro).
  • “Devires Totêmicos – Cosmopolíticas dos Sonhos” – Barbara Glowczewski
  • “Comunidade dos Espectros – I. Antropotecnia” –  Fabián Ludueña Romandini
  • “Três Ecologias” – Félix Guattari – Ed. Papiros – 1990
  • “Caosmose –  Um Novo Paradigma Estético” – Félix Guattari – Ed. 34 – 1992
  • “Metafísicas Canibais” – Eduardo Viveiros de Castro – Ed. Cosac Naify – 2015
  • “Há Mundo Por Vir?: Ensaio Sobre os Medos e os Fins” – Debora Danowski e Eduardo Viveiros de Castro – Ed. Instituto Sócio-Ambiental  – 2015
  • “Linguagem e vida” – Antonin Artaud – Ed. Perspectiva – 2005
  • “O Teatro e Seu Duplo” – Antonin Artaud –  Ed. Martins Fontes. 1999
  • “Performance como Linguagem” – Renato Cohen – Ed. Perspectiva, 1989
  • “Work in Progress na Cena Contemporânea” – Renato Cohen – Ed. Perspectiva, 2004
  • “Arte da Performance: Do Futurismo ao Presente” – Ed. Martins Fonte – 2012
  • “Em Busca de um Teatro Pobre” – Jerzy Grotowski – Ed. Civilização Brasileira – 1987
  • “Testo Yonqui – Sexo, Drogas e Biopolítica” – Beatriz Preciado – Ed. Espasa – 2008
  • “Jamais Fomos Modernos” – Bruno Latour
  • Tudo e qualquer texto de Waly Salomão
  • “Aspiro ao Labirinto” – Helio Oiticica
  • “Cyclonopedia” – Reza Negarestani
  • “O Contrato Natural” – Michel Serres